sexta-feira, 24 de julho de 2020

Como atrair borboletas.

Aprenda dicas simples para atrair borboletas para o quintal até mesmo nas grandes cidades e conheça as espécies mais frequentes, as árvores preferidas e os frutos que cativam esses insetos.


Árvores, frutas e flores auxiliam no contato com borboletas mesmo em grandes cidades — Foto: Rudimar Narciso Cipriani/Acervo Pessoal.


Ter perto de si o principal símbolo da renovação parece trazer sorte e esperança. Os sentimentos, tão necessários em fases difíceis como a que passamos, ainda ganham forma com o colorido das borboletas. Tentar cativá-las para a visita aos quintais e jardins, porém, depende de certos conhecimentos e, buscando isso, o Terra da Gente conversou com especialistas nesses insetos para descobrir as principais estratégias para atrair as lindas voadoras.


As borboletas são alguns dos animais que realizam a completa metamorfose, passando de ovos, lagartas, pupas até a formação adulta. Para atraí-las utilizando árvores, flores e frutos precisamos de dois tipos de informação: quais são as espécies que usadas pelas lagartas e quais espécies são as favoritas das borboletas.


Brassolis sophorae é conhecida como borboleta do coqueiro e é comum de ser identificada em áreas urbanas também — Foto: Pedro Alvaro Neves/Acervo Pessoal


O contato com as borboletas é uma forma de se aproximar da natureza, o que pode trazer benefícios à saúde, como o alívio de estresse e aumento do bem-estar
— Aline Vieira (aluna de mestrado em Ecologia do LABBOR)


O que plantar? O professor do Departamento de Biologia Animal da Unicamp, André Victor Lucci Freitas, especialista nesses insetos, destaca como “queridinhas” das lagartas o manacá verdadeiro, o maracujá, o tomate de árvore, a couve e as palmeiras, dentre outras. Já, para as borboletas, a estrela-do-egito, lantana, verbena, lavanda, flamboyânzinho, flor-de-mel e as margaridas.


Veja algumas das espécies de plantas citadas para atrair lagartas e borboletas para os quintais
— Foto: Arte/TG


Se todas as árvores coloridas podem parecer capazes de conquistar esses animais, a beleza que chama atenção dos olhos humanos, não garante completamente a visita. A principal busca delas é pela facilidade de extração do néctar para a alimentação. Assim, a oferta de água adoçada em bebedouros de beija-flores e até de frutas pode ajudar a aproximar essas famintas.


“Apesar de espécies frugívoras serem raras nas cidades, colocar frutas pode atrair aves também, o que é bom de qualquer modo. Pode-se usar bananas, mamão e goiaba. Essas são as mais atrativas”, comenta o professor. Tanto plantar árvores dessas espécies quanto dispô-las em comedouros são boas iniciativas, porém o fruto deve estar em decomposição para agradar o paladar das borboletas, já que elas se alimentam do líquido liberado pela fruta quando fermentada.

Frutas fermentadas dispostas em comedouros ou em árvores são capazes de atrair borboletas — Foto: André Victor Lucci Freitas/Acervo Pessoal

As espécies mais conhecidas, mesmo em áreas urbanas, são: borboleta-do-manacá (Methona themisto), borboleta-da-couve (Ascia monuste), borboleta-do-maracujá (Dione juno, Agraulis vanillae e Heliconius) e as espécies de borboletas-do-coqueiro (Brassolis spp.)


Borboleta-do-manacá e borboleta-do-maracujá são exemplos de espécies que frequentam os jardins em áreas urbanas — Foto: Gabriela Brumatti/TG e Valeria Vieira/Acervo Pessoal

Quando elas chegam? 
Algumas condições do ambiente aumentam a frequência das visitantes, como um clima ameno e úmido. Assim, áreas próximas à regiões arborizadas garantem mais diversidade de espécies. “Além disso, outro fator importante é a incidência de luz solar no jardim. 
Quanto mais tempo o jardim for coberto por sol, melhor será para as borboletas, já que elas necessitam do calor do sol para manter sua atividade e voar”, reforça Aline Vieira, mestranda em Ecologia pelo Laboratório de Borboletas da Unicamp (LABBOR).
Exatamente por esse motivo, estações mais quentes, como a Primavera e o Verão, são as favoritas das borboletas. Com o acesso ampliado aos recursos, graças à floração e frutificação de diversas espécies, elas usam dois sentidos principais para detectar esses ambientes. “As lagartas têm baixa mobilidade. Assim, as fêmeas de borboletas encontram as plantas pelo cheiro, forma e cor, ou seja, usam visão e olfato”, explica o professor da Unicamp.


Borboleta-da-couve é uma espécie muito conhecida mesmo em áreas urbanizadas e pode ser atraída com certas plantas — Foto: André Victor Lucci Freitas/Acervo Pessoal

Como se comportam? Quando as adultas percebem um lugar ideal para o desenvolvimento, geralmente levam em consideração também os “pratos preferidos” das lagartas. Como elas não são capazes de se alimentarem de qualquer planta, dependem dessas hospedeiras para o seu desenvolvimento pleno. No entanto, é possível que procurem outros locais para se tornarem pupas.

É o que explica a doutoranda em Ecologia do LABBOR, Luísa Mota: “elas são vistas caminhando fora de suas plantas hospedeiras, procurando um local apropriado para passar a fase de pupa. Muitas vezes, as encontramos em troncos ou mesmo muros e paredes, bem afastados das plantas que se alimentaram”. Nessa dispersão pelos jardins, as lagartas funcionam também como base da alimentação de muitos insetos e aves, tanto nas cidades quanto nas florestas.


Em fase de pré-pupa, manchas laterais da lagarta começam a ficar amareladas e o inseto inicia o processo de tecer uma seda que o fixa na folha — Foto: Pedro Alvaro Neves/Acervo Pessoal.

Há riscos ou vantagens? Ao contrário do que dizem alguns mitos populares, borboletas não são capazes de cegar com o “pózinho” liberado pelas escamas de suas asas e não oferecerem qualquer perigo. A presença delas nos jardins só reflete o alto nível da qualidade de vida naquele ambiente e favorece a polinização. 
“O único risco [de tê-las por perto] é querer mais e mais borboletas em nossas casas”, brinca André Victor.


Borboleta do manacá recebe o nome por conta da planta devorada por suas lagartas — Foto: Luísa L. Mota/Acervo Pessoal

Já as lagartas de borboletas, de forma geral, não "queimam" (já que pelos e espinhos urticantes são mais comuns em lagartas de mariposas) ainda assim o ideal é não tocá-las. Outro ponto que pode parecer negativo é a capacidade desses insetos de devorar as plantas das quais se alimentam. Permanecendo meses se alimentando de grandes quantidades, podem desfolhar bastante uma árvore ou arbusto, levando em alguns casos à diminuição do crescimento ou da produção de flores e frutos. Porém, raramente, isso leva à morte dessas plantas, que se recuperam rapidamente quando as lagartas completam seu ciclo.


Pupa de borboleta-do-coqueiro apresenta a fase que antecede a formação do indivíduo adulto — Foto: Pedro Alvaro Neves/Acervo Pessoal

“Muitas vezes, queremos as borboletas perto de nós, mas não pensamos o mesmo sobre as lagartas e não temos paciência com os danos que elas causam às plantas. Mas é bom lembrar da frase de Antoine de Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe: ‘É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas’”, descrevem as pesquisadoras.


Reprodução das borboletas dá origem aos ovos que são depositados nas folhas das plantas usadas como alimento pelas lagartas — Foto: Gabriela Brumatti/TG.

Créditos:
Por Terra da Gente
 
André Victor Lucci Freitas e o colega Pedro Alvaro Neves que muito admiro.