quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Sumiço das Borboletas;



     DESMATAMENTO. 


Como já dizia o meu amigo e mentor, o  Sr. Ivo Rank, que sempre dominou a biologia dos lepidópteros; "O desmatamento e o uso de pesticidas, descontroladamente irá diminuir e muito o número de espécies de borboletas".





Os adultos em geral sabem as consequências do desmatamento. Mas como explicar para as crianças mudanças climáticas, alterações no ciclo hidrológico,  enchentes? Uma das formas é contando-lhes histórias, histórias simples como a que escrevi e que anexo para o seu conhecimento e divulgação entre os pequeninos. Um dia eles entenderão, aprendendo a respeitar e a defender a natureza.

Texto de autoria do Prof.Adilson D. Paschoal.

Assunto: Literatura infantil.
Conto: Riacho de Prata e Pé de Árvore.
Finalidade: Entendimento das consequências do desmatamento.

Corria, sem ter muita pressa, entre o arvoredo de uma grande floresta, um riacho de águas muito claras que, por isso, se chamou Riacho de Prata. Muito tempo antes, quando os índios ainda viviam por ali, o riacho mantinha-se sempre cheio e dentro do seu leito de pedras, sem nunca transbordar. Mas depois que surgiram os fazendeiros, cortando as árvores para fazer lenha e para plantar cana-de-açúcar e café, as matas foram diminuindo, fazendo o riacho mudar de jeito, ora enchendo-se em demasia, ora secando quase que por todo.
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Mas como a vida só termina com a morte, o riacho, e tudo o mais em sua volta, foi se ajustando, tentando sobreviver. Um belo dia, de uma semente caída em sua margem nasce uma formosa planta; como ninguém sabia seu nome foi chamada Pé de Árvore. Com o tempo passando, ela foi crescendo, crescendo, até se tornar uma árvore bem grande. O riacho, que acompanhara todo o seu desenvolvimento, um dia puxa prosa com ela dizendo: 
 ─ Como você cresceu! Ficou bonita! 
— Graças à minha água isso foi possível! 
─ Mas já faz tanto tempo! 
— responde Pé de Árvore 
— quando eu era ainda pequenina e suas águas cristalinas banhavam suavemente o meu pé. 
— Agora você encolheu, ficou magro, quase sem água! Não sei qual será o meu futuro se você secar completamente 
— lamenta-se ela. 
 ─ A água que carrego não depende de mim, mas de meus pais 
— responde Riacho de Prata. 
 ─ Mas você tem pais? 
— pergunta, surpresa, Pé de Árvore. 
 ─ Sim! 
— diz ele. 
— Minha mãe é a nascente, onde eu nasci; meu pai é o trovão, que quando fica bravo manda as nuvens despejarem chuva, cuja água vem parar aqui no leito onde corro. 
 ─ Sendo assim, peça para eles mandarem mais água para você, bastante água mesmo, pois eu já estou ficando com sede; algumas folhas minhas já estão secando, caindo no chão árido onde agora estou vivendo 
— diz a árvore, lamentando a sorte. 
 ─ Isso não é mais possível! 
— responde o riacho. 
— Minha mãe disse-me que o homem derrubou muitas árvores aqui por perto, fazendo secar as nascentes, olhos d’água como ela costumava dizer; as nuvens também diminuíram e meu pai não mais pode fazer chover como antigamente. Triste, com o pensamento no que acabara de ouvir, a árvore, buscando uma saída para aquele destino cruel, mas nada encontrando, disse bem alto para que todos ouvissem: “Se eu tivesse pernas, ao invés de raízes, eu juro que sairia correndo daqui e nunca mais voltaria! Ah! se eu tivesse pernas!...
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Com o tempo passando, e a seca aumentando, a pobre árvore viu-se quase despida de folhas. Mas um dia a situação mudou. 
Sem avisar ninguém, densas nuvens negras formam-se no céu e trovões se ouvem anunciando chuva forte. Em pouco tempo a tormenta desaba sobre a floresta, encolhida e seca. 

O riacho fica feliz e exclama: 
 ─ É o papai que está vindo, trazendo esperanças para todos nós... 
 ─ E água também! 
— exclama Pé de Árvore, sorrindo novamente depois de longo período de espera por aquelas gotas salvadoras, que pareciam não vir nunca. E assim, com a chuva caindo por vários dias sem parar, o riacho foi se enchendo cada vez mais, espalhando suas águas muito além do seu leito normal, chegando a cobrir parte do tronco de Pé de Árvore, que, por isso, começou a ficar com medo, pois a força das águas começava a arrancar a terra, expondo suas raízes. 

 ─ Socorro! 
— pede ela para o riacho, agora transformado em rio de fúria. Era tal o barulho das águas, em pavoroso turbilhão, que o riacho não pode ouvir o pedido de socorro da árvore 
— e mesmo se ouvisse que poderia ele fazer para salvá-la, se perdera o controle sobre si mesmo.
─ Socorro! Socorro! 

 As horas passam. Subitamente, uma onda muito forte arranca a árvore do chão e passa a arrastá-la na correnteza. 
Vendo aquilo, o riacho só pode fazer com que ela não batesse nas margens a sua cabeça de ramos secos. ─ Ponha-me de volta na terra! 
— grita, em desespero, Pé de Árvore.
— Eu não quero mais sair daqui! Não deste jeito!... 

 Mas nada pode ser feito; as águas turbulentas levam a pobre árvore rio abaixo, jogando-a em um rio ainda maior. 
E assim, de rio em rio, a árvore acabou seus dias enroscada nas pedras de uma grande cachoeira muito distante dali. Passada a tormenta, o riacho voltando ao seu leito de sempre, a ausência da frondosa árvore foi sentida por todos. Que falta ela fazia! 

Que beleza era sua folhagem verde, dando sombra e acolhendo pássaros e outros animais da floresta! E os frutos que dava, alimentando a bicharada... 
 Continuando a correr, sem ter muita pressa, um dia Riacho de Prata notou que uma pequenina planta nascia no lugar onde Pé de Árvore viveu por tanto tempo. 

Logo verificou a semelhança com aquela que fora arrastada pelas suas águas. 
Não havia dúvida: naquele lugar, uma das sementes de Pé de Árvore brotara gerando uma planta igual a ela. Por ser dela filha, o riacho deu-lhe o nome de Pezinho de Árvore, pelo menos até que crescesse e ficasse grande e bonita como a mãe.

 Quando ficou moça, pondo os primeiros ramos que deram frutos, Riacho de Prata contou-lhe a história da mãe, terminando com os seguintes dizeres, nunca esquecidos por Pezinho de Árvore: 
 ─ Em um dia de muita raiva, quando a água que eu tinha era pouca, e ela passava sede, sua mãe disse-me que se ela tivesse pernas ao invés de raízes ela sairia correndo daqui e nunca mais voltaria. Foi o que aconteceu. Mesmo sem ter pernas ela acabou saindo daqui e nunca mais voltou. 
Neste caso, as “pernas” que a levaram foram minhas águas, que ela tanto queria fossem aumentadas custasse o que custasse.

(Algumas) adaptações.
João A.C.



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