DESMATAMENTO.
Como já dizia o meu amigo e mentor, o Sr. Ivo Rank, que sempre dominou a biologia dos lepidópteros; "O desmatamento e o uso de pesticidas, descontroladamente irá diminuir e muito o número de espécies de borboletas".
Os adultos em geral sabem as consequências do desmatamento. Mas como explicar para as crianças mudanças climáticas, alterações no ciclo hidrológico, enchentes? Uma das formas é contando-lhes histórias, histórias simples como a que escrevi e que anexo para o seu conhecimento e divulgação entre os pequeninos. Um dia eles entenderão, aprendendo a respeitar e a defender a natureza.
Texto de autoria do Prof.Adilson D. Paschoal.
Assunto: Literatura infantil.
Conto: Riacho de Prata e Pé de Árvore.
Finalidade: Entendimento das consequências do desmatamento.
Corria, sem ter muita pressa, entre o arvoredo de uma
grande floresta, um riacho de águas muito claras que, por isso, se
chamou Riacho de Prata. Muito tempo antes, quando os índios ainda
viviam por ali, o riacho mantinha-se sempre cheio e dentro do seu
leito de pedras, sem nunca transbordar. Mas depois que surgiram os
fazendeiros, cortando as árvores para fazer lenha e para plantar
cana-de-açúcar e café, as matas foram diminuindo, fazendo o riacho
mudar de jeito, ora enchendo-se em demasia, ora secando quase que
por todo.
Mas como a vida só termina com a morte, o riacho, e tudo o
mais em sua volta, foi se ajustando, tentando
sobreviver. Um belo dia, de uma semente
caída em sua margem nasce uma formosa
planta; como ninguém sabia seu nome foi
chamada Pé de Árvore. Com o tempo
passando, ela foi crescendo, crescendo, até
se tornar uma árvore bem grande. O riacho,
que acompanhara todo o seu
desenvolvimento, um dia puxa prosa com ela
dizendo:
─ Como você cresceu! Ficou bonita!
— Graças à minha água
isso foi possível!
─ Mas já faz tanto tempo!
— responde Pé de Árvore
—
quando eu era ainda pequenina e suas águas cristalinas banhavam
suavemente o meu pé.
— Agora você encolheu, ficou magro, quase
sem água! Não sei qual será o meu futuro se você secar
completamente
— lamenta-se ela.
─ A água que carrego não depende de mim, mas de meus pais
— responde Riacho de Prata.
─ Mas você tem pais?
— pergunta, surpresa, Pé de Árvore.
─ Sim!
— diz ele.
— Minha mãe é a nascente, onde eu nasci;
meu pai é o trovão, que quando fica bravo manda as nuvens
despejarem chuva, cuja água vem parar aqui no leito onde corro.
─ Sendo assim, peça para eles mandarem mais água para
você, bastante água mesmo, pois eu já estou ficando com sede;
algumas folhas minhas já estão secando, caindo no chão árido onde
agora estou vivendo
— diz a árvore, lamentando a sorte.
— diz a árvore, lamentando a sorte.
─ Isso não é mais possível!
— responde o riacho.
— Minha
mãe disse-me que o homem derrubou muitas árvores aqui por perto,
fazendo secar as nascentes, olhos d’água como ela costumava dizer;
as nuvens também diminuíram e meu pai não mais pode fazer chover
como antigamente.
Triste, com o pensamento no que acabara de ouvir, a árvore,
buscando uma saída para aquele destino cruel, mas nada
encontrando, disse bem alto para que todos ouvissem: “Se eu
tivesse pernas, ao invés de raízes, eu juro que sairia correndo daqui
e nunca mais voltaria! Ah! se eu tivesse pernas!...
Com o tempo passando, e a seca
aumentando, a pobre árvore viu-se quase
despida de folhas.
Mas um dia a situação mudou.
Sem
avisar ninguém, densas nuvens negras
formam-se no céu e trovões se ouvem
anunciando chuva forte. Em pouco tempo a
tormenta desaba sobre a floresta,
encolhida e seca.
O riacho fica feliz e
exclama:
─ É o papai que está vindo, trazendo esperanças para todos
nós...
─ E água também!
— exclama Pé de Árvore, sorrindo
novamente depois de longo período de espera por aquelas gotas
salvadoras, que pareciam não vir nunca.
E assim, com a chuva caindo por vários dias sem parar, o
riacho foi se enchendo cada vez mais, espalhando suas águas muito
além do seu leito normal, chegando a cobrir parte do tronco de Pé
de Árvore, que, por isso, começou a ficar com medo, pois a força
das águas começava a arrancar a terra, expondo suas raízes.
─ Socorro!
— pede ela para o riacho, agora transformado em
rio de fúria.
Era tal o barulho das águas, em pavoroso turbilhão, que o
riacho não pode ouvir o pedido de socorro da árvore
— e mesmo se
ouvisse que poderia ele fazer para salvá-la, se perdera o controle
sobre si mesmo.
─ Socorro! Socorro!
As horas passam. Subitamente, uma onda muito forte arranca
a árvore do chão e passa a arrastá-la na correnteza.
Vendo aquilo, o
riacho só pode fazer com que ela não batesse nas margens a sua
cabeça de ramos secos.
─ Ponha-me de volta na terra!
— grita, em desespero, Pé de
Árvore.
— Eu não quero mais sair daqui! Não deste jeito!...
Mas nada pode ser feito; as águas turbulentas levam a pobre
árvore rio abaixo, jogando-a em um rio ainda maior.
E assim, de rio
em rio, a árvore acabou seus dias enroscada nas pedras de uma
grande cachoeira muito distante dali.
Passada a tormenta, o riacho voltando ao seu leito de sempre,
a ausência da frondosa árvore foi sentida por todos. Que falta ela
fazia!
Que beleza era sua folhagem verde, dando sombra e
acolhendo pássaros e outros animais da floresta! E os frutos que
dava, alimentando a bicharada...
Continuando a correr, sem ter muita pressa, um dia Riacho de
Prata notou que uma pequenina planta nascia no lugar onde Pé de
Árvore viveu por tanto tempo.
Logo verificou a semelhança com
aquela que fora arrastada pelas suas águas.
Não havia dúvida:
naquele lugar, uma das sementes de Pé de Árvore brotara gerando
uma planta igual a ela. Por ser dela filha, o riacho deu-lhe o nome de
Pezinho de Árvore, pelo menos até que crescesse e ficasse grande e
bonita como a mãe.
Quando ficou moça, pondo os primeiros ramos que deram
frutos, Riacho de Prata contou-lhe a história da mãe, terminando
com os seguintes dizeres, nunca esquecidos por Pezinho de Árvore:
─ Em um dia de muita raiva, quando a água que eu tinha era
pouca, e ela passava sede, sua mãe disse-me que se ela tivesse
pernas ao invés de raízes ela sairia correndo daqui e nunca mais
voltaria. Foi o que aconteceu. Mesmo sem ter pernas ela acabou
saindo daqui e nunca mais voltou.
Neste caso, as “pernas” que a
levaram foram minhas águas, que ela tanto queria fossem
aumentadas custasse o que custasse.
(Algumas) adaptações.
João A.C.
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