quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cade nossas flores que voam ao vento?


Para onde as borboletas foram?



Ainda que corra o risco de ouvir insinuações bem humorados de amigos, não resisto em perguntar: cadê as borboletas? Elas sumiram ou ando tão desligado que há tempo eu não vejo borboleta. A impressão que tenho é a de que faz anos. Pelo menos de forma consciente, quando a gente para, admira as cores de suas asas e seus vôos graciosos. As borboletas com asas que parecem um quadro surrealista, harmônico, com os dois lados absolutamente iguais. Acho que não vejo nem uma borboleta mixuruca, desta que passa diante dos olhos com seus vôos irregulares que terminam quase sempre no galho de uma árvore. 




Eu sou frequentador assíduo de parques e ciclovias. Mas, elas não estão lá. Quando eu era criança, eu via borboleta todos os dias. As borboletas estavam em todos os lugares. Às vezes víamos nuvens de borboletas. Borboletas amarelas, outras que a gente chamava de oito, porque tinham asas tricolores que pareciam desenho de um oito em preto, vermelho e branco. Eu tive um amigo maluco. Eu acho que todo mundo teve ou tem um amigo maluco, eles são necessários para a saúde mental da gente, porque nos alertam para não fazer as coisas malucas que eles fazem - estou dizendo que ele era maluco, não doente. Ele colecionava borboletas.
Ele tinha cara inofensiva, mas quando eu via as borboletas espetadas numa grande cortiça no quarto dele, eu achava que atrás daquela placidez tinha alguém cruel - um homicida. Para quê matar borboletas? Eu não quero dizer que todo caçador de borboletas seja maluco, assassino ou cientista em potencial. Não é isso. Mas é que esse negócio de matar borboletas parece tão sem sentido que se criou ao redor do caçador de borboletas um estigma. Por exemplo, eu me recordo de um personagem popular chamado Dirceu Borboleta. Era o secretário gago do prefeito Odorico Paraguaçu na novela O Bem Amado, da Globo. Ele tinha cara de maluco, mas ao mesmo tempo era grande conhecedor dos lepidópteros. Então, maluco não era. Mas caçava borboletas.


O comediante Jerry Lewis também interpretou caçador de borboletas num filme. Minha amiga Gardênia de Jesus garante que muitas espécies de borboleta estão desaparecendo e que o hábito de caçá-las é nocivo. Acho que matar borboleta é a coisa mais inútil, com exceção dos artesãos que matam borboletas para colocar no fundo de pratos que são pendurados nas paredes. Não sei se ainda existem estes pratos. Mas já vi muitos. Talvez estes pratos sejam, dentro de algumas décadas, ao lado dos livros científicos e dos livros de fotografias, as últimas referências de que existiram borboletas no planeta.



Ontem de manhã eu fiz um teste: fui para o Bosque do Alemão, onde tem uma bela área vegetal, coisa linda de ver, e fiquei procurando borboletas. Olhando para lá e para cá que nem maluco. Uma velhinha chegou perto e perguntou: “O senhor perdeu os seus documentos?” Eu disse que procurava borboletas. Ela deu aquele sorriso compreensivo que a gente dá quando encontra um maluco, mas, por piedade, não comenta, porque conversar com maluco não leva a lugar nenhum. O certo é que eu não vi nenhuma borboleta. Talvez devesse ficar mais tempo. Mas eu acho que o sumiço das borboletas se relaciona com o sumiço das árvores. Elas sempre foram muito amigas. E ambas desaparecem. Em silêncio.
 

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