Grupo está concentrado em trecho da rodovia entre os municípios de Manicoré e Careiro da Várzea, no Amazonas
O comportamento indica os primeiros sinais de que o nível dos rios vai baixar. O agrupamento é chamado pelos indígenas de panapaná. “Geralmente, o deslocamento destas borboletas indica que a vazante dos rios começou”, explica o biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Francisco Felipe Xavier. “Elas vão em busca dos sais minerais que estão expostos nas margens dos rios”, completa. No Sul do Amazonas, as espécies de borboletas mais comuns são das Famílias: Pieridae e Nymphalidae.
“Os grandes naturalistas que passaram pela Amazônia, quando a capital do Amazonas ainda se chamava São José da Barra do Rio Negro, relatam que viram nuvens que levaram horas passando por cima do Rio Amazonas entre Santarém, no Pará, e Manaus, no Amazonas”, diz.
Borboletas na região do Tupana. Foto: Luiz Eduardo Leal/Cedida
MANAUS – Mais uma vez a migração de borboletas chama a atenção no Amazonas, mas dessa vez são borboletas mesmo, e não mariposas.
Amarelas, marrons e pretas, elas voam em grupos volumosos pela BR-319 e se reúnem às margens de rios e igarapés de águas escuras. Quem vê, diz que é como se elas usassem túneis invisíveis para seguir caminho juntas. Os moradores da área garantem que o evento acontece todo ano quando o verão amazônico chega, por volta do mês de julho.
Segundo relatos dos mais antigos, elas estão vindo do Sul do Estado. O que se pode comprovar in loco, é que o grupo está concentrado entre os municípios de Manicoré e Careiro da Várzea, entre as comunidade de Igapó Açu e Tupana, na rodovia. A estrada está em obras e as ações são alvo de litígio entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O estado de conservação da floresta entre os municípios de Humaitá e Careiro da Várzea, entre a BR-319 no sentido Porto Velho – Manaus, ainda permite a migração. “Isso acontece em vários locais da Amazônia, mas por serem isolados, nós não sabemos porque não tem ninguém para ver e relatar”, avalia. Ele também acredita que o grupo venha para o Amazonas porque a região é mais propícia e menos desmatada que no Estado de Rondônia.
Segundo Xavier, que é técnico da coleção de invertebrados do instituto, notícias sobre o movimento das borboletas não são recentes. Na literatura, há relatos de historiadores e naturalistas sobre o deslocamento de nuvens de várias espécies juntas.
Ele também explica que não é possível afirmar com precisão a razão do deslocamento, mas, com certeza, elas estão procurando sais minerais, um complemento da alimentação das borboletas.
O caminho que parece formar um túnel invisível também precisa de observação e pesquisa para ser explicado. “Sabemos que no deslocamento de alguns insetos, os indivíduos que vão à frente do grupo expelem um ferormônio e que faz com que os outros sigam o caminho. Isso já foi estudado nos grandes fluxos migratórios das monarcas, por exemplo”, explica.
"Passageira"
A mariposa, Urania leilus, a 'passageira' que chamou a atenção do manauara no mês de maio ainda está no Estado. De acordo com Francisco Felipe, elas estão passando pela região do Baixo Rio Amazonas, em Parintins. “Achei que o movimento das uranias não seria tão prolongado, mas se você observar, ainda há grupos em Manaus. Agora elas estão concentradas em sua maior parte em Parintins. Ainda não sabemos o destino final, mas se descobrimos vai ser muito bom. Elas estão reunidas por causa de algum recurso natural”, conta.
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