Segundo pesquisador, borboletas estão em migração para reproduzir.
Capital é ponto estratégico na rota da espécie, originária de outros países.
Um fenômeno da natureza tem impressionado moradores de Manaus. Milhões de borboletas invadiram a capital amazonense nas duas últimas semanas e já foram vistas, sempre em grupo, em diversas zonas da cidade. Em entrevista ao G1, o entomólogo Francisco Felipe Xavier Filho, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explicou que Manaus é uma rota de passagem destas borboletas, que estão migrando de outros estados e até de diferentes países da América do Sul para acasalar. Na capital, elas encontram recursos necessários para repousar antes da reprodução.
A maioria das borboletas é marrom com parte das asas alaranjadas. De acordo com o pesquisador, a espécie é a Augiades crinisus. Originária de países como Costa Rica, Peru,Colômbia, Bolívia e Venezuela, a espécie não é comum na Amazônia. No Brasil, ela é encontrada somente na região Sul. No entanto, no período reprodutório, elas deixam seu lugar de origem em busca de um ponto estratégico para acasalar.
O caminho é longo. Durante toda a trajetória, milhares delas morrem, sobrevivendo somente as mais resistentes. A espécie, segundo o especialista, costuma viver por aproximadamente quatro semanas. Destas, duas ou três são dedicadas à migração.
Estima-se que, no Amazonas, o destino final das borboletas seja o Sul do estado. Elas também devem buscar áreas mais quentes do Mato Grosso. No entanto, de acordo com pesquisa, elas encontraram em Manaus um ponto estratégico para descansar. "É uma viagem longa e elas buscam relaxar antes de seguir o trajeto. Não é coincidência elas estarem em Manaus agora. Essas borboletas devem passar por aqui há muito tempo, pois elas têm memória genética e sempre fazem a mesma rota, mas como a cidade se estabeleceu e tem recursos que elas precisam, como áreas verdes, elas ficam por aqui", explicou Francisco.
Segundo o pesquisador, o melhor horário para observar as borboletas é no início da manhã e no fim da tarde. No entanto, o forte calor que tem atingido a capital amazonense também tem mudado a rotina das borboletas. "Como está muito quente, elas acabam se cansando mais rápido e em horários de sol mais forte, como meio dia, elas buscam descansar, parando em árvores e entrando em casas", destacou.
Apesar de já ter acontecido em Manaus outras vezes, possivelmente em menores proporções, o fenômeno não é tão comum. Segundo Francisco Xavier, a migração para acasalamento das Augiades crinisusacontece em períodos de aproximadamente cinco a cinco anos.
Outra curiosidade destacada pelo entomólogo é que, apesar das borboletas já fazerem este trajeto, há uma espécie de seleção natural feita entre os insetos que é favorável para a espécie. Diversos fatores encontrados na floresta amazônica contribuem para este processo.
Uma das principais barreiras geográficas para animais terrestres, que geralmente não atrapalha os que voam, é um dos "problemas" para estas borboletas: os rios amazônicos. Por serem muito extensos, as borboletas acabam ficando cansadas durante a travessia. Um comportamento considerado curioso e importante para estudos, de acordo com o pesquisador, é a maneira como algumas destas borboletas morrem no Amazonas. Cansadas, elas entram em exaustão e caem na água. A cena, quando em grupo, se assemelha a uma espécie de suicídio coletivo. No entanto, segundo Francisco Xavier, é normal. "Elas não têm a intenção de se matar, mas não resistem. Isso é vital para a espécie, pois apenas as mais fortes chegam ao lugar propício para acasalamento e geram novas borboletas tão fortes quanto as que geraram", ressaltou.
O pesquisador, que já trabalha no Inpa há 25 anos estudando insetos, prevê ainda que estas borboletas deverão se adaptar melhor a Manaus nos próximos anos. "Há muitos relatos de aparecimento destas borboletas no Centro de Manaus. Isto pode estar ligado à proximidade de áreas do Rio Amazonas que são mais estreitas, então é mais fácil para elas atravessarem. No futuro, pode ser que a Ponte Rio Negro seja um ponto estratégico para elas, usada como lugar de repouso e evitando os altos índices de morte na travessia. O rio é largo, tem muito vento e o sol é forte, então elas não resistem. Elas poderão avaliar a ponte como um bom lugar para descansar antes de continuar a travessia", analisou o pesquisador.
Já há cerca de duas semanas em Manaus, as borboletas devem deixar a capital amazonense nos próximos dias para seguir o processo. Quem não viu o fenômeno natural deverá esperar, em média, mais cinco anos até que o novo período reprodutório das Augiades crinisusaconteça.
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